segunda-feira, 26 de abril de 2010

Relatório Anistia Internacional 2009, sobre o Brasil

Informe Anual 2009 - Capítulo sobre o Brasil

BRASIL


REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

Chefe de Estado e de governo: Luiz Inácio Lula da Silva

Pena de morte: abolicionista para crimes comuns

População: 194,2 milhões

Expectativa de vida: 71,7 anos

Mortalidade de crianças até 5 anos (m/f): 32/24 por mil

Taxa de alfabetização: 88,6 por cento





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A sociedade brasileira permaneceu profundamente dividida em termos de realização dos direitos humanos. A expansão econômica e os projetos sociais apoiados pelo governo contribuíram para algumas reduções das disparidades socio-econômicas. Entretanto, apesar das modestas melhoras na diminuição da pobreza, a desigualdade na distribuição de renda e de riquezas continuou sendo uma das maiores da região. Enquanto isso, as violações de direitos humanos que afetam milhões de pessoas que vivem na pobreza não receberam praticamente nenhuma atenção. As comunidades mais pobres permaneceram sem conseguir ter acesso a serviços necessários. Além disso, vivenciaram um elevado grau de violência praticada por quadrilhas criminosas e sofreram violações sistemáticas de direitos humanos por parte da polícia.



As comunidades urbanas marginalizadas continuaram tendo de enfrentar as consequências de viver sem proteção social suficiente. Além disso, sofriam as consequências de políticas de desenvolvimento urbano discriminatórias e da falta de qualquer provimento de segurança pública. Em consequência disso, muitas dessas comunidades acabam presas em favelas ou em sub-habitações, onde vivem encurraladas entre a violência dos criminosos e os abusos da polícia.



Nas zonas rurais, trabalhadores sem terras e povos indígenas foram intimidados e ameaçados com violência e com expulsões forçadas. A expansão agro-industrial e projetos de desenvolvimento governamentais e privados reforçaram a discriminação social e a pobreza que há décadas afetam as comunidades rurais. Os direitos humanos e constitucionais dessas comunidades foram regularmente desconsiderados, seja pela falta de acesso à Justiça e a serviços sociais, seja por violência e intimidação das empresas de segurança privadas irregulares que protegem interesses econômicos poderosos.



Muitas das pessoas que defendem os direitos humanos de comunidades marginalizadas, entre as quais estão advogados, líderes sindicais e ativistas comunitários, foram criminalizadas pelas autoridades e ameaçadas por aqueles cujos interesses desafiam.



Informações gerais



Em outubro, ocorreram eleições municipais em todo o Brasil. A situação no Rio de Janeiro, onde grupos parapoliciais conhecidos como milícias (formados por policiais fora de serviço, bombeiros e soldados) e quadrilhas de traficantes controlavam extensas áreas da cidade, foi considerada tão instável que o Exército foi destacado para garantir a segurança dos candidatos. Em novembro, enchentes devastaram algumas regiões de Santa Catarina, causando mais de 100 mortes e deixando mais de 30 mil desabrigados.



A corrupção continuou a minar tanto a prestação de serviços públicos quanto o acesso à Justiça. Em maio, uma investigação da Polícia Federal desvendou um esquema de desvio de verbas públicas do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para serviços contratados por câmaras municipais nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba e Rio Grande do Norte. Em dezembro, como parte de outra investigação sobre corrupção, no estado do Espírito Santo, a Polícia Federal prendeu o presidente do Tribunal de Justiça, juízes, advogados e um promotor público por suposto envolvimento na venda de decisões judiciais.



O antigo histórico brasileiro de impunidade pelos crimes cometidos pelo regime militar (1964-1985) enfrentou seu primeiro sério desafio. Em julho, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reabriu o debate ao afirmar que a tortura não é um crime político e que, portanto, não está coberta pela Lei de Anistia de 1979. Suas afirmações foram refutadas pelo ministro da Defesa e por membros das Forças Armadas. Em outubro, a Ordem dos Advogados do Brasil requereu que o Supremo Tribunal Federal (STF) tomasse uma decisão sobe essa interpretação da Lei de Anistia.



Em outubro, o coronel reformado do Exército Carlos Alberto Brilhante Ustra tornou-se a primeira pessoa a ser condenada em uma ação civil por torturas praticadas durante o governo militar. De modo controverso, a Advocacia-Geral da União (AGU) anunciou que defenderia o coronel Ustra e seu co-réu, o ex-coronel Audir dos Santos Maciel, em uma ação civil separada, movida por procuradores federais, com base em que a Lei da Anistia deveria protegê-los contra procedimentos judiciais.



No plano internacional, no mês de abril, o Brasil submeteu um relatório ao novo sistema de supervisão do Conselho de Direitos Humanos da ONU, a Revisão Periódica Universal. O governo federal aceitou as recomendações do Conselho, as quais incluiam a adoção de medidas para reduzir o uso de força excessiva pela polícia, para melhorar as condições do sistema prisional e para garantir a segurança das pessoas que defendem os direitos humanos. No final do ano, uma proposta para adequar a legislação brasileira ao Estatuto de Roma do Tribunal Penal Internacional ainda aguardava ratificação pelo Senado e pela Câmara dos Deputados.





Violência e despejos forçados nas áreas rurais



A violência contra trabalhadores sem terras prosseguiu, sendo geralmente praticada por empresas de segurança privadas irregulares ou insuficientemente regularizadas, contratadas por proprietários de terras ou por milícias ilegais. Prosseguiram os despejos forçados, em muitos casos em total desconsideração aos devidos procedimentos legais. Houve tentativas de criminalizar os movimentos que apoiam as pessoas sem terra em sua luta para proteger a terra e para assegurar a reforma agrária.



No estado do Rio Grande do Sul, promotores e policiais militares montaram um dossiê com diversas alegações contra integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Isso foi considerado pelo movimento como uma tentativa de restringir suas atividades e de criminalizar seus membros. O dossiê, que incluia alegações de que o MST teria ligações com grupos terroristas internacionais, foi utilizado para dar sustentação a ordens judiciais de despejo, muitas das quais foram executadas com excesso de força pela polícia.



No estado do Paraná, milícias armadas ilegais ligadas a proprietários de terras continuaram a atacar trabalhadores sem terra.



- No dia 8 de março, no município de Ortigueira, 15 pistoleiros invadiram o acampamento Terra Livre, em que estavam 35 famílias, ameaçando as crianças, agredindo fisicamente os homens e as mulheres e ateando fogo aos seus pertences. Posteriormente, sete dos pistoleiros foram detidos. Três semanas depois, dois homens encapuzados mataram a tiros o líder do MST em Terra Livre, Eli Dallemore, diante de sua esposa e de seus filhos.



- No dia 8 de maio, homens armados invadiram um acampamento de 150 famílias, próximo a Cascavel, com tratores, escavadeiras e um caminhão blindado, disparando tiros e destruindo lavouras, uma escola e uma igreja. Antes de serem dominados, os homens armados trocaram tiros com a polícia. Dez indivíduos foram presos em conexão com o ataque.



O estado do Pará continuou a registrar os maiores números de ameaças e de homicídios de ativistas rurais. Foram raros os casos em que os responsáveis eram levados à Justiça.



- Em maio, um novo julgamento de Vitalmiro Bastos de Moura resultou em sua absolvição e libertação. Ele foi julgado pelo assassinato, em fevereiro de 2005, da irmã Dorothy Stang, ambientalista e ativista rural. Um julgamento anterior o havia condenado a uma sentença de 30 anos de prisão. Sua absolvição foi amplamente condenada por várias pessoas, entre elas o Presidente Lula e outras autoridades do governo. O Ministério Público ingressou com um recurso contra a decisão, o qual ainda estava em andamento no final do ano.



Direitos dos povos indígenas



Os povos indígenas que lutam por seus direitos constitucionais a terras ancestrais continuaram a ser vítimas de assassinatos, de violência, de intimidações, de discriminação, de expulsões forçadas e de outras violações de direitos humanos que os empurram, cada vez mais, à pobreza. Atrasos em decisões judiciais contribuíram para a persistência da violência contra os indígenas. Após sua visita ao Brasil, em agosto, o relator especial da ONU sobre povos indígenas criticou “a persistente discriminação subjacente à elaboração de políticas públicas, à prestação de serviços e à administração da Justiça” que “algumas vezes, contagiou setores da sociedade e provocou episódios de violência”.



Em maio, homens mascarados dispararam tiros e lançaram bombas de fabricação caseira contra um grupo de indígenas na Reserva de Raposa/Serra do Sol, no estado de Roraima, ferindo 10 índios. Os ataques foram atribuídos a um grupo de grandes produtores de arroz que permaneceram ilegalmente na terra indígena homologada pelo Presidente Lula em 2005. As iniciativas da Polícia Federal para expulsar os arrozeiros foram suspensas até que fosse julgado um recurso que o governo de Roraima apresentou ao Supremo Tribunal Federal contestando a legalidade da homologação contínua da reserva. Apesar de, no mês de dezembro, oito dos 11 juízes do Supremo terem votado a favor da manutenção da demarcação original de Raposa/Serra do Sol, uma decisão final foi adiada até 2009 devido a um dos juízes ter requerido um prazo maior para suas considerações.



- No estado de Pernambuco, em agosto, um líder indígena do povo Truká, Mozeni Araújo de Sá, foi assassinado a tiros em uma rua movimentada da cidade de Cabrobó. Ele era uma testemunha-chave dos assassinatos de outros dois índios Truká, mortos a tiros durante uma festa comunitária em junho de 2005. Além disso, ele também concorria a uma vaga na Câmara de Vereadores desse município. O pistoleiro foi detido e, até o final do ano, ainda aguardava julgamento.



Defensores de direitos humanos



Por todo o país, os defensores de direitos humanos continuaram a ser ameaçados, intimidados e atacados.



- No Rio de Janeiro, João Tancredo, presidente do Instituto dos Defensores de Direitos Humanos, sobreviveu a um atentado contra sua vida, no mês de janeiro, quando seu carro blindado foi atingido por quatro projéteis. Ele retornava de um encontro com moradores da favela Furquim Mendes, onde havia estado para ouvir as denúncias relatadas contra um policial conhecido como “predador”, acusado de assassinar cinco pessoas na comunidade.



O Pará continuou sendo o estado com o maior número de defensores ameaçados. De acordo com o Programa Estadual de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos desse estado, havia pelo menos 50 defensores sob ameaça, menos de 10 dos quais contavam com proteção adequada.



Forças policiais e de segurança



O sistema de justiça criminal brasileiro continuou a se caracterizar por negligência, discriminação e corrupção. Apesar do registro de algumas reduções nas taxas totais de homicídio, as comunidades carentes dos centros urbanos e as cidades menores do interior continuaram a registrar índices elevados de criminalidade violenta e de homicídios. Constatou-se que alguns indivíduos dos quadros das forças de segurança e dos órgãos de aplicação da lei estavam envolvidos com grupos de extermínio, com milícias e com atividades criminosas.

Houve poucos avanços com relação ao Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania do governo, o PRONASCI. Esse programa visa a prevenção do crime e a inclusão social nos centros urbanos mais violentos do país, sendo que poucos estados apresentaram propostas de projetos que merecessem ser financiados.

Rio de Janeiro



As autoridades estaduais continuaram a promover um policiamento linha-dura, caracterizado por operações de grandes proporções envolvendo um alto número de policiais, de veículos blindados e de helicópteros em incursões nas favelas da cidade. Em janeiro, seis pessoas foram mortas durante uma operação realizada nas favelas do Jacarezinho e da Mangueira. Em abril, duas operações – uma nas favelas da Coréia e de Vila Aliança, outra na Vila Cruzeiro –, resultaram em 20 pessoas mortas; pelo menos sete moradores foram feridos por balas perdidas. Outras 10 pessoas foram mortas, em agosto, durante uma operação em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.



Apesar de o número de homicídios na cidade do Rio de Janeiro ter diminuído em comparação a 2007, as pessoas mortas pela polícia em casos registrados como “autos de resistência” representaram aproximadamente 15 por cento do total de mortes violentas ocorridas entre janeiro e outubro de 2008. Persistiu a ocorrência de homicídios cometidos por policiais fora de serviço. Investigações da Polícia Civil revelaram que 12 policiais, entre os quais dois do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar (BOPE), estavam atuando como matadores de aluguel. As pessoas que ousaram enfrentar o crime organizado continuaram a ser intimidadas. Pelo menos 17 servidores públicos – entres os quais três juízes, sete promotores, cinco delegados de polícia e um deputado estadual – receberam ameaças de morte de grupos criminosos e de milícias. Muitos deles estavam recebendo proteção policial no final do ano.



Em junho, a Assembleia Legislativa do Estado abriu um inquérito sobre o papel das milícias, as quais se acreditava controlarem cerca de 170 favelas. A investigação teve início depois de noticiado que as milícias que controlam a favela Batan, na zona oeste do Rio, haviam sequestrado e torturado três repórteres do jornal O Dia e um morador da favela. O inquérito revelou a existência de redes de extorsão de tipo mafioso, de crimes eleitorais, de violência e de corrupção que penetravam o núcleo das instituições do Estado, com vastas ramificações entre policiais corruptos, milícias, deputados estaduais e vereadores. Em consequência desse inquérito, foram presos diversos líderes importantes das milícias, entre eles um deputado estadual.



- Em agosto, homens mascarados, que se acreditava pertencerem a milícias, mataram a tiros sete moradores da favela do Barbante, entre eles um comerciante local que havia se recusado a pagar a ‘taxa’ das milícias.



São Paulo



Apesar dos registros de redução na quantidade de homicídios, as estatísticas oficiais referentes ao número de pessoas mortas por policiais militares no estado de São Paulo apresentaram um pequeno aumento no período de janeiro a setembro de 2008. Nesses meses, registrou-se que a polícia matou 353 pessoas, enquanto que, no mesmo período de 2007, foram registradas 325 mortes. Ao mesmo tempo, ocorreu uma grande quantidade de chacinas. Grupos de extermínio ligados à polícia continuaram a operar na periferia da cidade de São Paulo.



- Entre abril e outubro, cinco corpos decapitados foram encontrados abandonados na região de Itaperica da Serra. A Polícia Civil investigava o possível envolvimento de um grupo de extermínio conhecido como “Os Highlanders”, que seria formado por 10 policiais militares.



Nordeste



No relatório que produziu sobre sua visita ao Brasil em 2007, o relator especial da ONU sobre execuções sumárias, arbitrárias ou extrajudiciais afirmou que “O Ministério Público em Pernambuco estimou que cerca de 70% dos homicídios em Pernambuco são cometidos por esquadrões da morte”, e que, segundo uma comissão parlamentar de inquérito federal, “80% dos crimes cometidos por grupos de extermínio envolvem policiais ou ex-policiais”.



Em Maceió, no estado de Alagoas, comunidades foram deixadas à mercê de quadrilhas de traficantes.



- No bairro Benedito Mendes, na periferia de Maceió, líderes da comunidade e o prefeito comunitário receberam diversas ameaças das quadrilhas de traficantes locais. Em novembro, depois de um tiroteio em que duas pessoas foram mortas e seis feridas, os traficantes ordenaram um toque de recolher que incluia o fechamento da escola do bairro e da associação dos moradores.



Tortura e outros maus-tratos



Apesar das várias iniciativas governamentais, entre as quais a recente ratificação do Protocolo Facultativo à Convenção contra a Tortura, a prática da tortura por agentes policiais ainda era comum no momento de efetuar a prisão, durante o interrogatório e no período de detenção. As denúncias, as investigações e os procedimentos judiciais desses casos de acordo com a Lei de Tortura de 1997 eram raros.



- No estado do Piauí, dois policiais militares do 4º Batalhão da cidade de Picos foram acusados de torturar dois jovens presos em outubro por suspeita de roubo. Os dois foram espancados nos genitais e nas costas. Um exame médico apontou graves lesões nos testículos e hematomas generalizados. No final do ano, dois policiais militares estavam sendo julgados e o comandante do batalhão havia sido afastado do posto até que o inquérito fosse concluído.



Muitos centros de detenção são dominados internamente por quadrilhas de traficantes, sendo que os detentos costumam ser torturados, mal tratados e, às vezes, assassinados pelos agentes prisionais ou por outros detentos. Alguns estados continuaram a adotar um sistema de isolamento em celas solitárias nos presídios de alta segurança, em contravenção às normas internacionais.



- Em setembro, três prisioneiros foram encontrados mortos a facadas no Instituto Penal Paulo Sarasate, em Fortaleza, no estado do Ceará. Em novembro, dois outros presos foram queimados vivos em suas celas. Com esses homicídios, o número de presidiários mortos nessa penitenciária, em 2008, chegou a 18. As autoridades atribuíram esses crimes a conflitos entre quadrilhas no interior da prisão.



Em uma decisão extremamente significativa, a Procuradoria Geral da República encaminhou um pedido ao Supremo Tribunal Federal, solicitando uma intervenção federal no estado de Rondônia, a fim de impedir as violações sistemáticas cometidas na Casa de Detenção José Mário Alves, conhecida como Urso Branco. O pedido foi encaminhado em razão dos oito anos em que ONGs nacionais e locais, entre as quais a Justiça Global e a Comissão de Paz e Justiça, apresentaram relatórios denunciando violações que incluiam tortura e execuções sumárias.



Prosseguiram as denúncias de maus-tratos e de abusos cometidos no sistema de detenção juvenil.



- Em julho, no sistema de detenção Fundação CASA (Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente) de São Paulo, no Complexo Franco da Rocha, os detentos denunciaram que, depois de ter ocorrido um tumulto, eles foram trancados em suas celas e espancados com cassetetes, com cabos de madeira com pregos nas pontas, com barras de ferro e com o cabo de uma enxada.



- Em novembro, no sistema de detenção DEGASE (Departamento Geral de Ações Socioeducativas) do Rio de Janeiro, um adolescente de 17 anos morreu devido a lesões na cabeça, sofridas no centro de detenção Educandário Santo Expedito, em Bangu. Testemunhas afirmaram que o jovem foi espancado pelos guardas. Foi aberto um inquérito policial sobre o caso.



Direitos das mulheres



As mulheres continuaram a passar por violências e por abusos. Aquelas que sobreviveram e que moram em comunidades carentes não puderam utilizar serviços básicos e tiveram acesso limitado à Justiça. Seu contato com o sistema de justiça criminal muitas vezes resultava em maus-tratos e em intimidações.



Mulheres que vivem nas comunidades dominadas por gangues ou por milícias tiveram de enfrentar esses abusos com poucas chances de qualquer reparação.



* Em agosto, um estudo sobre as milícias realizado pelo Laboratório de Análise da Violência da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (LAV/UERJ) descreveu o tratamento recebido por uma mulher acusada de infidelidade em Bangu, uma comunidade dominada por milícias. Ela foi despida em frente a sua casa, teve a cabeça raspada e foi forçada a andar nua pela favela.



O número de mulheres em prisões continuou a subir. Estatísticas divulgadas pelo Depen (Departamento Penitenciário Nacional) indicaram um aumento de 77 por cento na população prisional feminina nos últimos oito anos – uma taxa de crescimento maior do que a masculina. As mulheres detentas continuaram a enfrentar maus-tratos, superlotação, serviços inadequados durante o parto e falta de condições para cuidar das crianças.



Visitas e relatórios da AI



#Representantes da Anistia Internacional visitaram o país em maio e em novembro. Em abril, delegados da organização atuaram como observadores durante a submissão do relatório do Brasil ao mecanismo de Revisão Periódica Universal.



£Brasil: Por trás do silêncio: experiências de mulheres com a violência urbana no Brasil (AMR 19/001/2008)

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terça-feira, 30 de março de 2010

Memorando para um intercambio sobre o conflito colombiano

Memorando para um intercambio sobre o conflito colombiano

Por Farc-EP

Primeiro. Sempre acreditámos numa saída política para o conflito. Desde antes da agressão a Marquetália e durante estes 46 anos o reiterámos, exprimimos e lutámos.

Segundo.
Não somos belicistas, nem lutamos por vinganças pessoais, não temos patrimónios materiais nem privilégios a defender, somos revolucionários comprometidos com consciência e até sempre com a busca de uma sociedade justa e soberana, profundamente humanistas, desprovidos de qualquer interesse pessoal mesquinho, amamos a nossa pátria acima de tudo e somos obrigados a desenvolver a guerra contra uma classe dirigente ajoelhada perante o império, que utilizou de maneira sistemática a violência e o atentado pessoal como arma política para sustentar-se no poder, desde o dia 25 de Setembro de 1828 quando pretendeu assassinar o Libertador Simón Bolívar, até hoje, em que pratica o Terrorismo de Estado para manter o status quo.

Terceiro. A dificuldade que a Colômbia enfrentou para conseguir a reconciliação através do diálogo e dos acordos foi devida à concepção de paz oligárquica do regime, que só aceita a submissão absoluta da insurgência à chamada "ordem estabelecida" ou, como alternativa, a "paz dos cemitérios".

Quarto. Não lutámos toda a vida contra um regime excludente e violento, corrupto, injusto e anti-patriota para agora, sem mudanças na sua estrutura, retornar a ele.

Quinto. Na Colômbia muita gente boa e capaz que queria um país melhor e que luto por isso pelas vias pacíficas, como Jaime Pardo Leal, Bernardo Jaramillo, Manuel Cepeda e outros, foi assassinada de forma premeditada, vil e friamente pelos serviços de inteligência do Estado em aliança com os paramilitares e as máfias, inimigos do povo, num genocídio sem precedentes que liquidou fisicamente todo um movimento político dinâmico e em pleno crescimento: A UNIÃO PATRIÓTICA.

Devido a essa estratégia do Terrorismo de Estado fracassou-se na busca de solução política em La Uribe durante os governos de Belisario Betancur e Virgilio Barco e, em Caracas e México durante o governo de César Gaviria.

Sexto. Em El Caguán, como reconheceu no seu livro e em declarações públicas o presidente Pastraña, o regime só procurava ganhar tempo para recompor a debilitada força militar do estado com um cronograma, directrizes, instruções e financiamento da Casa Branca, integrados no Plano Colômbia e imposto pela administração de Bill Clinton para abortar uma saída política democrática para o conflito colombiano e dar início à sua campanha para reverter as mudanças progressistas que desde então avançam no continente. O satanizado processo do Caguán estava condenado ao fracasso antes de começar como corroborou o ex-presidente Pastraña, pois o seu governo jamais procurou aplainar o caminho rumo à paz e sim fortalecer e afinar o seu aparelho de dominação, para continuar a guerra.

Sétimo. Estes antecedentes não invalidam as possibilidades de uma solução política para o conflito colombiano. Evidenciam sim a quase nula intenção da classe dirigente colombiana de ceder no seu hegemonismo e na sua intolerância frente a outras correntes ou opções políticas de oposição que questionem o seu regime político e o seu alinhamento internacional incondicional em favor dos interesses imperiais dos Estados Unidos, com desprezo da nossa soberania e em sentido contrário aos mais caros e sentidos interesses da nação e da pátria.

Sua concepção sobre o exercício do poder é assinalada e sustentada pela violência, corrupção e rapacidade e isso torna muito difícil uma saída incruenta, que de todas as formas continuará a ser bandeira das FARC-EP e seguramente de amplos sectores do povo que finalmente é o que sente sobre a sua humanidade os efeitos da hegemonia oligárquica.

Oitavo. Os interesses dos diferentes sectores sociais estão a confrontar-se permanentemente. Em certas ocasiões e por períodos definidos a oligarquia exerce a sua ditadura a fundo, sem respostas transcendentes da parte das maiores pela pressão, repressão, guerra suja e desqualificação que se desenvolve a partir do Estado sobre elas de diferentes maneiras; em outros, as respostas são importantes mas não suficientes; em outros, a seguir a uma acumulação de factores sociais transbordantes, a resposta popular é contundente. Entendemos que os interesses dos diferentes sectores numa sociedade como a nossa estão em choque e movimento permanente, nunca paralisados. Por isso, falar na Colômbia de hoje do pós-conflito é propaganda.

Nono. Esta reflexão é pertinente, uma vez que as causas geradoras do levantamento armado no nosso país existem mais vivas e pujantes que há 46 anos, o que reclama, se queremos construir um futuro certo de convivência democrática, maiores esforços, desprendimentos, compromisso, generosidade e imaginação realista para atacar a raiz dos problemas e não as consequências dos mesmos.

Décimo. Depois de 12 anos de ofensiva total contra as FARC-EP por parte do governo dos Estados Unidos e do Estado colombiano, dos assassinatos oficiais, verdadeiros crimes de lesa humanidade, hoje chamados falsos positivos, do terror crescente da nova máscara do narco paramilitarismo denominada bancos criminosos, da asquerosa truculência do presidente para manter-se no poder com trapaças, da incontível corrupção da administração e da empresa privada que em troca dessa mesma corrupção e de subornos milionários apoia o governo, da impúdica invasão do exército gringo e da crescente injustiça social com alto desemprego, sem saúde para as maiores, com um altíssimo deslocamento interno, com um ridículo salário mínimo em oposição aos enormes lucros de banqueiros, fazendeiros e empresas multinacionais e depois de haver escamoteado com uma reforma laboral as conquistas salariais mais transcendentes aos trabalhadores do campo e da cidade, tudo o que se conseguiu foi adubar mais o terreno para o crescimento da insurgência revolucionária.

Segunda parte:

1. O conflito armado colombiano possui profundas raízes históricas, sociais e políticas. Não foi a invenção de nenhum demiurgo, produto de ânimos sectários, nem consequência de alguma especulação teórica e sim o resultado e a resposta a formas de dominação específicas, impostas pelas classes governantes desde os princípios do Estado-nação cujo eixo foi a sistemática violência terrorista anti-popular, efectuada a partir do estado, especialmente nos últimos 60 anos.

2. Superá-lo, pelas vias pacíficas, supõe que preliminarmente exista disposição total para abordar os temas do poder e do regime político, se a decisão é encontrar soluções sólidas e perduráveis.

3. Temos apresentado a necessidade de conversar, em princípio para conseguir acordos de troca, o que permitira não só a liberdade de prisioneiros de guerra de lado a lado como também avançar na humanização do conflito e certamente ganhar terreno no caminho rumo a acordos definitivos.

4. Conversar, buscar em conjunto soluções para os grandes problemas do país, não deve ser considerado como concessão de ninguém e sim como um cenário realista e possível para tentar, uma vez mais, deter a guerra entre colombianos a partir da civilidade dos diálogos.

5. Reunir-se para conversar de trocas e de solução política supõe plenas garantias para fazê-lo, livres de toda pressão, dando por certo que quem as pode conceder é, exclusivamente, o governo de turno, se possuir a vontade de encontrar caminhos de diálogo.

6. Nossa histórica e permanente disposição para encontrar cenários de confluência através do diálogo e da busca colectiva de acordos de convivência democrática não depende de uma conjuntura especial ou da correlação das forças políticas, é simplesmente parte do nosso acervo programático.

7. Durante os últimos 45 anos fomos objecto de toda espécie de ofensivas políticas, propagandísticas, militares, com presença aberta ou subterrânea do Pentágono, com toda espécie de ultimátuns e de ameaças de autoridades civis e militares, sob uma permanente agressão terrorista sobre a população civil das áreas onde operamos, etc, que não prejudicaram minimamente nossa decisão e disposição de lutar, pelo meio que nos deixam, por uma Colômbia soberana, democrática e com justiça social.

8. Entendemos os diálogos, na busca de caminhos rumo à paz, não como uma negociação porque não é, e sim como um enorme esforço colectivo para alcançar acordos que possibilitem atacar as raízes que originam o conflito colombiano.

Terceira parte:

As FARC são resposta à violência e à injustiça do Estado. Nossa insurgência é um acto legítimo, um exercício do direito universal que assiste a todos os povos do mundo de rebelar-se contra a opressão. Dos nossos libertadores aprendemos que "quando o poder é opressor, a virtude tem direito a destruí-lo" e que "o homem social pode conspirar contra toda lei positiva que tenha vergado a sua espinha".

Tal como proclama o Programa Agrário dos Guerrilheiros, as FARC "são uma organização político-militar que recolhe as bandeiras bolivarianas e as tradições libertárias do nosso povo para lutar pelo poder e levar a Colômbia ao pleno exercício da sua soberania popular e para por em vigor a soberania popular. Lutamos pelo estabelecimento de um regime democrático que garanta a paz com justiça social, o respeito dos direitos humanos e um desenvolvimento económico com bem-estar para todos os que vivem na Colômbia".

Uma organização com estas projecções, que busca a concretização do projecto político e social do pai da República, o Libertador Simón Bolívar, irradia na sua táctica e estratégia um carácter eminentemente político impossível de refutar. Só o governo de Bogotá, que actua como colónia de Washington, nega o carácter político do conflito. Faz isso no âmbito da sua estratégia de guerra sem fim para negar a saída política que reclama mais de 70% da população. Com isso pretende impor à força uma concepção anti-patriótica de segurança dos investidores ideada pelos estrategas do Comando do Sul do exército dos Estados Unidos, que relega a plano secundário a dignidade da nação.

Para o governo de Uribe, na Colômbia não existe um conflito político-social e sim uma guerra do Estado contra o terrorismo, e com este pressuposto, complementado com a mais intensa manipulação informativa, considera-se com justificação e carta de corso para desencadear o seu terrorismo de Estado contra a população e para negar a solução política e o direito à paz.

Agora que a Colômbia é um país formalmente invadido, ocupado militarmente por tropas estado-unidenses, essa absurda percepção será fortalecida, provocando a agudização do conflito.

Uribe não está instruído pelos seus amos de Washington nem para a troca nem para a paz.

O presidente da Colômbia cria fantasmas para justificar a sua inamovibilidade frente à questão da troca de prisioneiros: que o acordo implica um reconhecimento do carácter de força beligerante do adversário e que a libertação de guerrilheiros provocaria a maior desmoralização das tropas... É a sua maneira de travar o caminho do entendimento. Esta intransigência desnecessária do governo foi a causa fundamental do prolongamento do cativeiro de ambas as partes. Quando Bolívar firmava o armistício com Morillo em Novembro de 1820, propôs ao general espanhol aproveitar a vontade de entendimento reinando para acordar um tratado de regularização da guerra "conforme as leis das nações cultas e os princípios liberais e filantrópicos". Sua iniciativa foi aceite, acordando-se a troca de prisioneiros, a recuperação dos corpos dos caídos em combate e o respeito à população civil não combatente. Quão distante está Uribe destes imperativos éticos de humanidade.

Sem dúvida, Uribe associa a solução política do conflito com o fracasso e a inutilidade da sua Doutrina de Segurança Nacional e com o fim melancólico da sua arrebatação belicista de esmagar mediante as armas a crescente inconformidade social. Parece um soldado japonês da segunda guerra mundial perdido numa ilha, disparando a inimigos imaginários em meio a sua loucura.

Aos participantes deste intercâmbio sobre o conflito colombiano reiteramos o afirmado recentemente aos presidentes da UNASUR e da ALBA.

"... Com um Uribe mergulhado no frenesim da guerra e encorajado com as bases norte-americanas não haverá paz na Colômbia nem estabilidade na região. Se não se trava o belicismo – agora repotenciado –, aumentará em proporção dantesca o drama humanitário da Colômbia. É hora de a Nossa América e o mundo voltarem os seus lhos para este país violentado a partir do poder. Não se pode condenar eternamente a Colômbia a ser o país dos "falsos positivos", do assassinato de milhares de civis não combatentes pela Força Pública, das fossas comuns, do despojo de terra, do deslocamento forçado de milhares de camponeses, das detenções maciças de cidadãos, da tirania e da impunidade dos que fazem vítimas com o amparo do Estado".

Solicitamos aos assistentes deste evento que interponham os seus bons ofícios promovendo, como um princípio de solução política do conflito, reconhecimento do estatuto de força beligerante às FARC. Seria o princípio da marcha da Colômbia rumo à paz. Se vamos falar de paz, as tropas norte-americanas devem sair do país e o senhor Uribe abandonar a sua campanha goebelliana de qualificar as FARC de terrorista. Da nossa parte, estamos prontos para assumir a discussão em torno da organização do Estado e da economia, da política social e da doutrina que há de guiar às novas Forças Armadas da nação.

Atentamente,

Secretariado do Estado Maior Central das FARC.
Montanhas da Colômbia, 22 de Fevereiro de 2010

O original encontra-se em http://www.frentean.col.nu/

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Texto que mostra a disposição do grupo em entregar as armas, mas não existe um disposição do governo colombiano em não ser aniquilar o grupo. Está na hora dos líderes da América do Sul e da Europa, em iniciar um movimento que garanta o fim do conflito e a integridade física dessas pessoas. Que eles possam continuar a luta no campo político sem correr risco de serem presos e assassinados como acontece há décadas.

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segunda-feira, 29 de março de 2010

Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 3

Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 3

Carlos Lopes

Funcionário do IRD - o departamento de “propaganda encoberta” do serviço secreto inglês - Conquest tentou ressuscitar o “holocausto ucraniano”. Segundo ele, “nessa espécie de história não há prova” e “a melhor fonte é o rumor”. Foi desmentido até pelos anti-comunistas da “sovietologia”

Forçoso é reconhecer que George Bush (pai) tinha suas razões para condecorar Robert Conquest com a “Medalha Presidencial da Liberdade”: a presidência de Bush não era mais do que a extensão de seu mandato como diretor da CIA; as obras “históricas” de Conquest são apenas a continuação de sua atividade funcional no departamento de desinformação do MI6.

Há 17 anos, quando publicou, aqui no HP, “A Constelação dos Falsificadores da História” (posteriormente incluído no livro “A História Continua”), Cláudio Campos, fundador de nosso jornal e secretário geral do Movimento Revolucionário 8 de Outubro, caracterizou precisamente essa atividade funcional:

“No final dos anos 60, Robert Conquest preencheu centenas e centenas de páginas, às quais deu o nome de ‘O Grande Terror’. O livro pretendeu ser um estudo exaustivo e em profundidade dos ‘crimes’ e ‘expurgos’ de Stalin, e obteve grande repercussão nos meios que queriam ouvir o que Conquest dizia. Ele era ‘apoiado’ numa quantidade verdadeiramente impressionante de documentos, relatórios secretos e não secretos, atas de reuniões e congressos do PCUS, testemunhos, uma infinidade de depoimentos em livros, revistas e jornais. (....) “Conquest não revelava a menor capacidade de avaliar, analisar, confrontar de forma séria esses documentos, de maneira a poder estabelecer qual era, de fato, a verdade histórica. Ele estava doentiamente obcecado por uma fantasia que preestabelecem de Stalin, e usava esses documentos simplesmente para pinçar aqui e ali, da forma mais irresponsável possível, os elementos que lhe permitissem reproduzir o seu tenebroso pesadelo. Revelava uma impermeabilidade verdadeiramente notável para os gritantes elementos de verdade contidos naqueles materiais, completa adstringência aos relatos mais inverossímeis e, sobretudo, uma imaginação absolutamente solta e pervertida na ‘interpretação’ dos textos que reunira”.

Na época em que Cláudio escreveu as palavras acima, ainda não era conhecido amplamente o passado de Conquest como funcionário do IRD (“Information Research Department” - o departamento do serviço secreto inglês para, nas palavras de seu criador, Christopher Mayhew, “contra-ofensiva de propaganda encoberta contra os russos”).

O fato, apesar de revelado pela primeira vez em 1978 pelo repórter David Leigh, no “The Guardian”, de Londres, não chamou a atenção até a segunda metade da década de 90.

Também não era sabido que “O Grande Terror” (1968) é, fundamentalmente, um recozinhamento dos textos que Conquest preparara para o IRD entre 1947 e 1956, recheados por citações da documentação soviética a que esse colarinho branco do MI6 teve acesso antes da substituição de Kruschev na URSS. Confirmando a exatidão das palavras de Cláudio, o contato com essa documentação não teve nenhum efeito sobre Conquest. Nada mudou no que já havia escrito. Serviu apenas para que ele pinçasse trechos, introduzindo-os no que antes produzira sem precisar de documentação alguma.

“SOVIETÓLOGOS”

Algo diferente aconteceu com “The Harvest of Sorrow” (1986), onde ele já não dispunha mais de acesso aos arquivos soviéticos – e, mesmo que dispusesse, seria inútil para rechear a falcatrua do “holocausto ucraniano”, pois esses arquivos estão abertos desde 1990 e ninguém conseguiu encontrar nada para apoiar essa invenção, nem Conquest conseguiu, a partir deles, acrescentar uma linha ao que havia publicado em 1986.

Assim, as fontes de Conquest em “The Harvest of Sorrow” são, aberta e quase exclusivamente, os colaboracionistas ucranianos – isto é, os criminosos de guerra que, depois da libertação da Ucrânia pelo Exército Vermelho, entraram nos EUA e Canadá, sendo depois aproveitados pela CIA.

Na verdade, foram eles que bancaram Conquest durante a feitura do livro: a Ukrainian National Association, um grupo com sede nos EUA que desde antes da II Guerra era composto por simpatizantes do nazismo (seu jornal, por germanofilia, foi proibido no Canadá durante a guerra), pagou US$ 80 mil a Conquest para que “The Harvest of Sorrow” fosse escrito - o que, segundo ele, foi uma generosa doação para as despesas com “pesquisas” (cf. Jeff Coplon, “In search of a soviet holocaust”, Village Voice, 12/01/1988).

Em seguida à publicação, aqueles anti-comunistas do meio acadêmico que pretendiam alguma credibilidade, dissociaram-se, como observa Coplon, imediatamente do livro de Conquest. A começar pelo já citado Alexander Dallin, declarando que a história de Conquest “não faz sentido”. (Dallin tinha fama de ser o mais “liberal” dos “sovietólogos”; para que o leitor tenha uma idéia, um dos seus livros sobre a URSS foi escrito em parceria com sua aluna favorita, a senhorita Condoleezza Rice).

Roberta Manning, que escreveu “The Tragedy of the Soviet Village: Collectivization and Dekulakization”, resolveu ser caridosa com Conquest: “Ele é terrível fazendo pesquisa. Ele malbarata as fontes, distorce tudo”.

Um pouco mais incisiva foi sua colega Lynne Viola, autora de uma série de livros sobre a “resistência popular e camponesa” ao “regime de Stalin” e primeira acadêmica dos EUA a ter acesso aos arquivos soviéticos sobre a coletivização da agricultura: “Eu desprezo completamente [o livro de Conquest]. Por que, em nome de Deus, esse governo paranóico desejaria conscientemente produzir uma fome, quando estavam aterrorizados pela guerra [com a Alemanha]?”.

Mas nada se comparou, em síntese e expressividade, à reação de Moshe Lewin, autor de um calhamaço denominado “Russian Peasants and Soviet Power: A Study of Collectivization”, ao livro de Conquest:

“Isso é merda, lixo [this is crap, rubbish]. Eu sou um anti-stalinista, mas não vejo como essa campanha [do “holocausto ucraniano”] vai aumentar o nosso conhecimento, somando horrores, somando horrores, até se tornar uma patologia”.

Mas quem disse que a questão – de Conquest e, na verdade, dos “sovietólogos” em geral - é aumentar o conhecimento?

BLACK PROPAGANDA

Na reportagem de David Leigh no “The Guardian”, o fundador do IRD, Christopher Mayhew, que em 1947 era sub-secretário do Ministério das Relações Exteriores inglês (Foreign Office), declara que o material anti-comunista que o departamento fornecia a jornalistas da Inglaterra e de outros países “somente era ‘black propaganda’ no sentido de que nosso trabalho era todo encoberto e a existência do departamento era confidencial” (cf. David Leigh, Death of the department that never was, “The Guardian”, 27/01/1978, pág. 13; sobre o IRD, ver, também, “The Observer”, 29/01/1978, How the FO waged secret propaganda war in Britain).

“Black propaganda” é o nome dado pelos “serviços de inteligência” à propaganda que é passada ao público sem que este saiba que é propaganda, isto é, como se fosse fato ou notícia. Somente por essa razão, para passar como fato a propaganda mais enganosa, o “trabalho” precisa ser “todo encoberto”, inclusive a existência do departamento que o faz. Porém, a julgar pelo que diz Mayhew, as coisas eram assim (inclusive em relação ao Parlamento) para garantir que a propaganda do IRD dissesse somente a verdade... Um fariseu inglês não tem competidores entre os fariseus do mundo. São muitos anos de experiência e refinamento. Segundo a reportagem do The Guardian, “funcionários ‘seniores’ [do IRD] admitem que o material passado [aos jornalistas] era pesadamente ‘tendencioso’ [slanted]’’.

Leigh descreve que “o IRD também encorajou a produção de livros, descrita em Whitehall [sede do Foreign Office] como ‘fertilização cruzada’”. O principal exemplo de “fertilização cruzada” são os livros de Conquest, que aparece na reportagem contando que “depois que deixou o IRD, foi sugerido que ele poderia combinar em um livro alguns dos dados que tinha reunido de publicações soviéticas. Ele vendeu à [editora] Bodley Head uma série já pronta [ready-made] de oito ‘estudos soviéticos’. Bodley, disse, publicou-os como um negócio comercial normal, vendendo (....) um terço das cópias para [o editor encoberto da CIA] Fred Praeger, que também publicou-os como um negócio comercial normal”.

O departamento de Conquest só não era segredo para o serviço de segurança soviético, que teve um agente dentro dele, Guy Burgess. O IRD sabia disso desde 1951, quando Burgess foi para a URSS. Mas isso não incomodou o departamento: quem não podia saber da sua existência era o povo inglês e outros povos do mundo.

PERCOLAR

Antes de “The Harvest of Sorrow”, Conquest já havia tentado outros pogroms contra a pátria de Gogol. Em “O Grande Terror”, a fome matava 3 milhões de ucranianos. Dezoito anos depois, os mortos subiram para 14,5 milhões. Entre um morticínio e outro, Conquest, com alguns parceiros, produziu, em 1984, “The Man-Made Famine in Ukraine” (“A fome artificial [“Man-Made”= fabricada pelo homem] na Ucrânia”).

Nesse panfleto precursor, diz Conquest:

“Nessa espécie de história nós não temos prova. (....) a incontestabilidade da evidência pode ser plena mesmo quando não é documentada ou completa” (cf. pág. 37 de “The Man-Made Famine in Ukraine”, Washington, 1984, American Enterprise Institute).

É mesmo pior do que a exposição que fez sobre “O Grande Terror”:

“A verdade, portanto, somente pode ser filtrada [percolate] na forma de disse-me-disse [hearsay] (....) basicamente, a melhor fonte, ainda que não infalível, é o rumor”.

Tão interessante quanto a declaração despudorada de que sua fonte é o boato, é a afirmação de que a verdade, em vez de conhecida em sua essência, precisa ser “filtrada” (no original, “percolada”, isto é, coada e limpa de “resíduos”, inclusive com o uso de soda cáustica – v. os verbetes “percolação” e “percolar” no Dicionário Caldas Aulete, ed. 1980).

Logo, vale tudo: a “fome provocada” na Ucrânia não foi uma punição aos que não aderiram à coletivização, pois, diz Conquest, a fome foi também contra os que aderiram a ela. Por que Stalin iria fazer isso contra os que o apoiavam, Conquest não explica. Não se sabe, também, porque Stalin desistiu de “eliminar” o povo ucraniano após 1933.

E havia mais coisas inexplicáveis:

Tombaram, na luta contra o nazismo e os traidores do país que Hitler instalou durante a ocupação, quase 9 milhões de ucranianos. Assim como os 500 mil ucranianos que constituíram a Resistência – isto é, que formaram a guerrilha soviética debaixo da ocupação nazista – eles eram, na grande maioria, camponeses, e tinham, como lema, “por Stalin e pela pátria”. Tão heróico comportamento e tão grande entusiasmo por Stalin, depois que 40% ou 60% de seus compatriotas morreram numa fome deliberadamente provocada?

Com tanta coisa – e desse tamanho - por explicar, Conquest não podia se safar com a fulgurante teoria de que o “holocausto ucraniano” não precisava de provas, simplesmente porque não tinha provas. Nem com a instituição do “disse-me-disse” como fonte suprema da verdade.

Daí, o recurso à manipulação dos números dos censos soviéticos.

ESTABLISHMENT

Alguns leitores, provavelmente, nos perguntarão como é possível que uma falsificação tão grosseira tivesse o patrocínio de universidades como Harvard e Stanford - que, com as de Princeton e Yale, são o “créme de la créme” do establishment acadêmico dos EUA.

McGeorge Bundy, que foi reitor em Harvard, professor da Universidade de Nova Iorque, Conselheiro de Segurança Nacional dos EUA (1961-1966), coordenador das operações encobertas do governo norte-americano (1964-1966) e presidente da Fundação Ford, definiu assim a questão:

“Em enorme medida, os programas de estudo de área desenvolvidos pelas universidades americanas nos anos depois da guerra foram compostos, dirigidos ou estimulados pelos diplomados do OSS [Office of Strategic Services: o antecessor da CIA] – uma notável instituição, meio tira-e-ladrão e meio encontro de faculdade. Ainda é verdade hoje, e eu espero que sempre será, que existe um alto grau de interpenetração entre as universidades com programas de área e a miríade de agências de informação do governo dos Estados Unidos.” (McGeorge Bundy, “The Dimensions of Diplomacy”, cit. em Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, pág. 58).

O OSS foi dissolvido pelo presidente Truman em setembro de 1945. Portanto, não é ao OSS que McGeorge Bundy se refere, ao falar dos programas das universidades “nos anos depois da guerra”, mas à CIA – da qual foi um dos idealizadores, com Allen Dulles, George Kennan e Nelson Rockefeller.

Apenas, Bundy é demasiado fariseu para falar publicamente a verdade, mesmo quando sabe que todos sabem do que está falando, não fosse ele o inventor da teoria da “negativa plausível”, pela qual o governo americano pode mentir à vontade, desde que tenha uma história para encobrir a mentira.

PREITO

Em abril de 2005, durante a festa de aniversário de um companheiro e amigo comum, comentei com Cláudio Campos alguns artigos de Walter Duranty, correspondente, na década de 30, do “The New York Times” na URSS.

Naquele dia, o que mais interessou a Cláudio foi a campanha de difamação contra Duranty, após sua morte, em 1957, cuja base é a de que ele teria ocultado a “fome na Ucrânia” dos leitores do “Times”. Ao contrário do que Conquest e outros disseram, as matérias de Duranty estão longe de ser apologéticas em relação ao socialismo, mesmo em relação à Ucrânia de 1932-1933. Apenas, ele recusou-se a endossar a fraude nazista.

Cláudio manifestou, então, que devíamos pesquisar e escrever um artigo sobre o assunto, e fez várias sugestões valiosas a esse respeito. Fiquei, então, de levar o projeto à frente. No entanto, o falecimento de Cláudio, no mês seguinte, impediu-me de continuar contando com sua sempre luminosa orientação. Nos últimos três anos, tenho voltado esporadicamente à pesquisa das fontes, mas sem tempo para finalizar algo sobre o assunto.

O fato é que somente agora, depois do discurso de um senador da oposição repetindo as infâmias nazistas de 75 anos atrás, senti-me obrigado a publicar o que várias vezes esbocei.

Assim, este trabalho é dedicado ao seu verdadeiro idealizador. As imperfeições, naturalmente, devem ser depositadas na minha conta-corrente.

A Cláudio Campos, in memoriam.

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FIM

Retirado do link:
http://www.horadopovo.com.br/2008/setembro/2705-26-09-08/P8/pag8a.htm

Ver: Parte 1 e Parte 2

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Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 2

Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 2

(CARLOS LOPES)

O principal engodo foi apontado por Barbara Anderson e Brian Silver, dois demógrafos muito respeitados: ao estabelecer uma taxa de natalidade superfaturada, omitindo o decréscimo dessa taxa durante a década de 30, Mace conta os que nunca nasceram como se fossem mortos. Os “mortos” são fabricados pelo truque de estabelecer uma falsificada taxa de natalidade

Depois que Reagan, em 1983, tirou o “holocausto ucraniano” do museu das fraudes históricas, coube a Robert Conquest a tentativa de dar a ele alguma credibilidade. Fez isto através de seu livro “The Harvest of Sorrow” (1986), um prolixo panfleto de mais de 400 páginas segundo o qual Stalin premeditou e provocou, contra o seu próprio interesse como líder da URSS, uma gigantesca fome para eliminar o povo ucraniano nos anos 1932-1933.

Na primeira parte deste artigo, vimos como, diante da insustentabilidade da história - na qual, sem fatos, sem testemunhas e sem vestígios, teriam morrido de fome de 1 milhão a 15 milhões de ucranianos (haja rigor!) - passou-se a um novo método de “cálculo” dos mortos, baseado na manipulação de números dos censos soviéticos: estabelecia-se uma taxa de natalidade irreal, superestimada, para o período entre os dois censos soviéticos anteriores à II Guerra Mundial (1926 e 1939) e, assim, fabricavam-se os mortos com a diferença entre a estimativa fantasiosa, inflacionada, e a população real que havia na URSS em 1939.

O problema é que seu inventor, como mencionamos, não era nada respeitável – um colaborador dos nazistas, terrorista, condenado na Ucrânia e abrigado nos EUA, Walter Dushnyck. Porém, já em 1984 (ano seguinte à da publicação do livreto de Dushnyck), os parasitas da invenção nazista do “holocausto ucraniano” - Robert Conquest, James Mace e outros – pareciam ter descoberto a pólvora. Mas tomaram o cuidado de escantear o verdadeiro autor do método, citando-o marginalmente, ou simplesmente evitando citações. Foi então que se pretendeu dar dignidade acadêmica ao que não era mais do que uma charlatanice de fugitivos dos tribunais para criminosos de guerra.

O aproveitamento acadêmico da tecnologia Dushnyck de manipulação dos censos soviéticos coube ao “pesquisador contratado” de Conquest, James Mace, da Universidade de Harvard.

O motivo de ceder a primazia à Mace, que já vinha fazendo tentativas nesse campo específico da fraude histórica, é que Conquest não sabe lidar com números, exceto quando se trata de dólares. A aritmética extra-monetária nunca foi o seu forte. Em “O Grande Terror” (1968) ele inflou tanto o número dos atingidos pela repressão soviética à sabotagem e conspiração pró-nazista de antes da II Guerra Mundial, que até o fundador da “sovietologia”, Alexander Dallin, autor de “Political Terror in Communist Systems”, fez questão de declarar que nada tinha a ver com os números de Conquest. Mal sabia Dallin, que tentava dar foros de ciência ao que era apenas propaganda servida em forma de protocolo acadêmico, que em breve (1981) teria que suportar Conquest dentro de seu próprio departamento, na Universidade de Stanford...

Depois da abertura dos arquivos da URSS, então, o livro tornou-se perfeitamente ridículo – exceto em algumas revistas e jornais que pouco se distinguem de uma casa de prostituição.

É verdade que, além da lambança que fez com os números de “vítimas” e na análise dos censos soviéticos, Conquest contribuiu bastante para seu próprio ridículo ao publicar, em 1984, um manual sobre o que os americanos deveriam fazer quando os russos invadissem o país (“What To Do When the Russians Come: A Survivor’s Guide” - “O Que Fazer Quando os Russos Chegarem: Um Guia de Sobrevivente”). A intenção era contribuir para a histeria insuflada por Reagan e caterva contra a URSS, faturando uns cobres na onda. Mas, como disse um resenhista norte-americano isento de pendores para a esquerda, foi a propaganda anti-comunista mais hilariante da Guerra Fria.

Voltando aos números, em 2007, no prefácio à uma nova edição de “O Grande Terror”, Conquest diminuiu em nada menos do que 7 milhões o número de “vítimas” na URSS durante o período de Stalin, em relação à edição de 1968 - com o mesmo critério com que antes incluiu esses 7 milhões, isto é, nenhum, e com a abertura dos arquivos soviéticos desmentindo o velho e o novo número.

DEMOGRAFIA

Por sua ignorância em aritmética, Conquest cedeu o papel principal na manipulação estatística a James Mace. E, convenhamos, este se esmerou.

Já nos referimos ao seu artigo “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine” (1984), publicado pelo órgão da United States Information Agency (USIA), “Problems of Communism”. Agora, vamos ao seu conteúdo.

Diz Mace:

“Se subtraímos nossa estimativa da população [ucraniana soviética] pós-fome da população [ucraniana soviética] pré-fome, a diferença é 7.954.000, o que pode ser tomado como uma estimativa do número de ucranianos que morreram antes da sua hora [died before their time]”.

O absurdo maior não está nesse perspicaz conceito de “morte antes da sua hora” (não morreu ninguém de velhice na Ucrânia nos 13 anos entre os censos de 1926 e 1939? E, por outro lado, quem morre, por exemplo, num acidente - teve “morte antes da sua hora”? E quem morre jovem de uma doença para a qual, na época, não existia tratamento? Em suma, não há significado em “morte antes da sua hora”, exceto atribuir aos comunistas qualquer morte que aconteça – ou mortes inexistentes).

O principal engodo foi apontado por Barbara Anderson e Brian Silver, dois demógrafos muito respeitados, ainda que sejam do tipo que acha científico fazer cálculos sobre o “excesso de mortes” na URSS. Apesar disso, por não serem ignorantes em seu campo de estudos, não querem sua reputação profissional atirada na mesma vala de Mace, Conquest, Dushnyck e outros.

Exatamente como Dushnyck, ao estabelecer uma taxa de natalidade superfaturada, omitindo o decréscimo dessa taxa durante a década de 30, Mace conta os que nunca nasceram – isto é, a inexistente população fabricada por sua falsa taxa de natalidade - como se fossem mortos (cf. Barbara Anderson e Brian Silver, “Demographic Analyis and Population Catastrophes in the USSR”, Slavic Review, 44, Nº 3, 1985, págs. 517 a 519).

Resumindo: o “déficit” populacional ucraniano de Mace (quase 8 milhões de pessoas) foi forjado por ele mesmo, ao usar uma taxa de natalidade falsa.

Os resultados de Barbara Anderson e Brian Silver tinham outro inconveniente para a dupla Conquest/Mace: eles eram coerentes com os resultados alcançados por um de seus alvos de difamação, o estatístico e demógrafo Frank Lorimer, que em 1946, em Genebra, publicou, sob o patrocínio da ainda existente Liga das Nações, o livro “The Population of Soviet Union: History and Prospects”.

Lorimer era um homem de imensa notoriedade em sua área de trabalho – quase sempre, justificada. O problema de Conquest e Mace era (e é) que os resultados de Lorimer tornam impossível que houvesse 14,5 milhões - ou 10 milhões, ou 5 milhões, ou mesmo 3 milhões - de mortos de fome somente na Ucrânia entre 1932-1933, porque ele calculou para toda a URSS um “excesso de mortes” entre 3,2 milhões e 5,5 milhões entre 1926 e 1939.

É justo observar, como fazem Barbara Anderson e Brian Silver, que Lorimer diz, em seu livro: “Há, naturalmente, muitas outras fontes de possível erro em todas essas computações. Conseqüentemente, estes resultados devem ser aceitos com muitas reservas” (Frank Lorimer, “The Population of Soviet Union: History and Prospects”, Liga das Nações, Genebra, 1946, pág. 240, citado por Anderson e Silver, art. cit.).

Era inevitável que Conquest e Mace tentassem difamar Lorimer – que já havia falecido quando Conquest publicou “The Harvest of Sorrow”.

Entretanto, como observou um comentarista, escrevendo no “Challenge”, de Nova Iorque, o estudo de Silver e Anderson é ainda pior para o “holocausto ucraniano” (e para Conquest e Mace) que o de Lorimer:

“De fato, Anderson e Silver dão a impressão de acreditar que o número total [das ‘mortes em excesso’ para toda a URSS] é, de longe, menor do que isso. Usando sua [Taxa de] Alta Mortalidade Presumida, que ‘aproxima as taxas de mortalidade que Lorimer pensou que efetivamente prevaleciam na URSS como um todo em 1926-27, mais altas do que aquelas oficialmente relatadas’, das [taxas de mortalidade] de 1939, pode ter havido somente 500 mil ‘mortes em excesso’ entre as pessoas vivas em 1926” (Challenge, New York, ed. de 04/03/1987).

Em meio à maior luta de classes da História, isso é menos do que os mortos admitidos oficialmente na Guerra Civil dos EUA (620 mil mortos). Com a diferença de que a Guerra Civil norte-americana durou 4 anos (1861-1865) - menos que um terço dos 13 anos de História da URSS aqui considerados (1926-1939).

NEO-MANIPULAÇÃO

Até agora, não há novidades em relação a Dushnyck. O que James Mace faz é apenas plagiar o ex-terrorista e ex-colaborador dos nazistas, que, provavelmente, não imaginou que o seu método pudesse fazer tanto sucesso em Harvard e Stanford. Aliás, nem deve ter percebido que era um método.

Porém, Mace resolveu dar o seu toque pessoal: “provar” a existência do “holocausto ucraniano”, através do censo soviético de 1959, ou seja, mais de três décadas depois do censo de 1926.

Diz ele:

“Nós podemos achar traços da fome procurando [no censo de 1959] por regiões onde o número de camponesas (o segmento menos móvel da população) nas faixas de idade que teriam nascido imediatamente antes ou durante a fome é anormalmente pequeno. Estas regiões existem na Ucrânia Soviética, uma nação de tradições ferozmente independentes; nas regiões habitadas por grandes populações cossacas, também ferozmente independentes; e nas áreas dos alemães do Volga” (carta de Mace ao professor Jaroslaw Rozumnyj, 04/02/1984, citada por Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, Toronto, 1987, pág. 72. A nota de Tottle – pág. 149 – para esse trecho é a seguinte: “Uma cópia desta carta enviada por Mace ao Comitê Canadense Ucraniano – UCC – foi apresentada em uma reunião do Conselho Escolar de Winnipeg em 14 de fevereiro de 1984, para apoiar a campanha do UCC de incluir o tópico da “fome-genocídio” no currículo escolar”).

Com essa novidade, Mace conseguiu superar Dushnyck com vários corpos de distância. Pelo menos, Dushnyck se limitou aos censos de 1926 e 1939. Assim, não teve que ignorar, como faz Mace, que entre 1933 (o início da suposta “fome”) e 1959 houve um acontecimento histórico denominado II Guerra Mundial – que foi decidido, precisamente, na URSS, e que teve na Ucrânia algumas das suas batalhas mais sangrentas, assim como alguns dos maiores massacres de toda a História humana. Por falar em genocídio, segundo a Larousse, o maior de todos os tempos foi, exatamente, o realizado pelos nazistas na URSS, onde 15% da população, comprovadamente, morreu durante a invasão alemã.

Douglas Tottle observa, por exemplo, que, entre 1941 e 1943, a região ucraniana da cidade de Kharkov foi terreno de quatro das maiores batalhas da II Guerra – e que somente sobreviveram metade dos habitantes da cidade.

Da mesma forma, Mace omite que 600 a 700 mil dos “alemães do Volga” (colônias alemãs que existiam às margens desse rio) foram deslocados da região pelo governo soviético em 1941, quando os nazistas se aproximavam, por motivos óbvios (aliás, os alemães do Volga já haviam sido base das hordas “brancas” e estrangeiras durante a Guerra Civil, logo após a Revolução).

“Além de ignorar aqueles que residiam [nessas regiões] nos anos 30 que morreram ou foram deslocados devido à guerra, Mace também ignora o vasto número que partiu para outras áreas e repúblicas durante o período de reconstrução em massa do pós-guerra. Em resumo, o censo de 1959, como o próprio Mace sabe, revela padrões demográficos atribuíveis primariamente aos desenvolvimentos pós-1941. (....) Pode-se concluir que qualquer admissão da [ocorrência da] II Guerra Mundial foi vista por Mace como um fato em detrimento de seu caso – ele não trata do genocídio nazista, buscando somente convencer os leitores do ‘genocídio comunista’” (Tottle, op. Cit.).

Resta dizer apenas que com essa manipulação dos números do censo de 1959, Mace, ao omitir o efeito da II Guerra Mundial sobre a população ucraniana e russa, inocentou os nazistas dos hediondos crimes que praticaram na URSS – todos os que morreram na guerra e nos massacres de civis, todas as vítimas do nazismo, foram, através desse embuste, atribuídas a Stalin. O que, provavelmente, era mesmo a intenção.


Retirado do link:
http://www.horadopovo.com.br/2008/setembro/2704-24-09-08/P8/pag8a.htm

Ver: Parte 1 e Parte 3

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sexta-feira, 19 de março de 2010

Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 1

Os censos da URSS e a fraude do “holocausto ucraniano” Parte 1

(CARLOS LOPES)

Na falta de fatos e de lógica, a partir de 1983, a manipulação de números dos censos soviéticos passou a ser o principal método dos mercenários, fascistas e outros desclassificados para tentarem colocar em pé a fraude do “holocausto ucraniano”


A fraude do “holocausto ucraniano” não é afirmar que houve fome na Ucrânia em 1932-1933. Nas localidades em que, durante a coletivização da agricultura, os “kulaks” (os camponeses ricos) conseguiram destruir plantações e rebanhos, é óbvio que houve dificuldades – e as próprias fontes soviéticas da época relatam escassez localizada de alimentos devido à sabotagem “kulak”. Lembremos que no início da coletivização havia, na URSS, 10 milhões de “kulaks” (para uma população camponesa total de 120 milhões de pessoas) - e 1 milhão e 800 mil deles, por sabotagem, foram condenados a mudar de localidade.

A fabricação do “holocausto ucraniano” não é, portanto, a existência de fome em tal ou qual lugar, mas a de que Stalin, deliberadamente, provocou uma fome artificial para eliminar o povo ucraniano. Por que Stalin – que nem russo era – queria eliminar o povo ucraniano, estando a URSS à beira da invasão e da guerra, previstas por ele desde 1930, é coisa que os inventores dessa infâmia não se deram, até hoje, ao trabalho de explicar. Evidentemente, projetava-se sobre Stalin o plano de limpeza étnica de Hitler, anunciado por este em 1926, com menção explícita à Ucrânia, no “Mein Kampf” – e parcialmente executado durante a II Guerra Mundial, com ajuda dos traidores ucranianos, quando o país foi ocupado pelos alemães.

O MÉTODO

Na falta de fatos e de lógica, a partir de 1983, a manipulação de números dos censos soviéticos passou a ser o principal método dos mercenários, fascistas e outros desclassificados para tentarem colocar em pé a fraude do “holocausto ucraniano”. O método é simples: atribui-se uma determinada taxa de natalidade à Ucrânia soviética e comparam-se os dois censos nacionais soviéticos anteriores à II Guerra (1926 e 1939), subtraindo-se a população real de 1939 da que existiria se a taxa de natalidade fosse verdadeira – e não morresse ninguém. A diferença são os “mortos de fome” durante o inventado “holocausto ucraniano”.

O pioneiro do método foi Walter Dushnyck, um colaborador dos nazistas e terrorista da “Organização Militar Ucraniana” que refugiou-se nos EUA após a II Guerra (cf. seu obituário em “Ukrainian Weekly”, cit. por Douglas Tottle, “Fraud, Famine and Fascism”, Progress Books, Toronto, 1987, pág. 67).

Dushnyck é autor de “50 Years Ago: The Famine Holocaust in Ukraine” (New York, 1983), um panfleto repleto de referências nazistas – inclusive a capa (uma caveira branca sobre uma foice e um martelo vermelhos: um dos temas favoritos dos posters hitleristas), as fotos da “fome ucraniana” publicadas originalmente no jornal de Hitler, o “Völkischer Beobachter” (e nos de seu apoiador americano, William Randolph Hearst), e as citações de livros nazistas sobre o mesmo assunto.

Depois da incursão de Dushnyck pela alucinose estatística, o método se tornou generalizado entre os anti-comunistas mais inescrupulosos: Robert Conquest, que, para escrever seu livro sobre o assunto, teve como ajudante James Mace, um dos seguidores do método estatístico de Dushnyck, o adotou, assim como o debilóide Nicolas Werth, organizador do infame “livro negro do comunismo”.

[Nicolas Werth, pela mediocridade, merece uma observação à parte: trata-se do filho de Alexander Werth, correspondente da BBC na URSS durante a II Guerra, autor de livros muito valiosos, em especial “Russia at War” e “Moscow 41”, e um caso raro de anti-comunista: aquele que luta para que sua objetividade seja pouco afetada por seus preconceitos, como se pode ver por suas reportagens sobre as batalhas de Leningrado e Stalingrado; sua confirmação, através de fontes não soviéticas, do complô pró-nazista de Tukachevsky; sua denúncia das atrocidades nazistas na URSS e no Leste europeu; e a desmoralização a que submeteu os “números de vítimas” que Soljenitsyn atribuiu a Stalin. Alexander Werth era russo de nascimento, tendo emigrado após a Revolução, aos 16 anos, acompanhando a família, para a Inglaterra. Infelizmente, o filho puxou apenas ao anti-comunismo do pai, sem qualquer das suas qualidades].

Voltando ao método de Dushnyck, ele pode ser avaliado pelo seguinte trecho de seu livro: “tomando os dados do censo de 1926 e os do censo de 1939 e a média de aumento [da população] antes da coletivização (2.36% ao ano), podemos calcular que a Ucrânia perdeu 7 milhões e 500 mil pessoas entre os dois censos”. Logo, esses seriam os mortos de fome entre 1932 e 1933...

Dushnyck, portanto, pressupõe que a taxa de natalidade permaneceu constante durante os 13 anos em que na URSS ocorreu a mais extraordinária transformação da História – com a industrialização pesada, a coletivização da agricultura, a preparação da defesa do país para a guerra e a construção do socialismo. Em suma, a URSS, que em 1926 era um país agrário, tornou-se uma potência industrial, mas, pelo “cálculo” de Dushnyck, isso não teria afetado a taxa de natalidade - o que é impossível, como sabe todo brasileiro, principalmente se for nordestino e vier trabalhar em São Paulo.

A conseqüência é que aqueles que jamais nasceram foram considerados mortos por um genocídio. Pois a taxa de natalidade, evidentemente, caiu entre 1926 e 1939 – e caiu significativamente.

Além disso, Dushnyck pressupõe que ninguém morreu de outra causa que não a fome entre 1926 e 1939, apesar de, além da morte por velhice, terem eclodido na URSS, durante esse período, duas grandes epidemias – tifo e malária, ambas sem tratamento conhecido na época.

Como disse o sociólogo Albert Szymanski (“Human Rights in the Soviet Union”, Londres, 1984), para que o “cálculo” de Dushnyck tivesse algum sentido era necessário que o número de mulheres no auge da fertilidade fosse o mesmo antes e depois de 1932-1933. Mas, naturalmente, isso também é impossível, pois as mortes na guerra e o decréscimo de natalidade entre 1914 (início da I Guerra Mundial) e 1921 (fim da Guerra Civil) trouxe, necessariamente, um decréscimo no número de mulheres aptas a procriar durante a década de 30 (como lembrou o demógrafo S.G. Wheatcroft, anti-comunista, mas com escrúpulos, mulheres que nascessem em 1914 teriam apenas 16 anos em 1930).

No “cálculo” de Dushnyck se omite, também, que uma parte da população que no censo de 1926 era classificada como ucraniana – cerca de 2 a 3 milhões de cossacos – foi reclassificada, no censo de 1939, como russa, pela simples razão de que viviam da Rússia e não na Ucrânia. Esses 2 a 3 milhões, no censo de 1926, estavam inflacionando indevidamente a população ucraniana.

Apesar disso tudo, entre os censos de 1926 e 1939, a Ucrânia aumentou sua população em 3 milhões e 339 mil pessoas. Porém, os adeptos desse método não consideram a população real, mas uma projeção fantasiosa – e muito interessada - de qual “deveria ser” o número de habitantes.

Já voltaremos a esses gênios da estatística. Antes, veremos os motivos que levaram a esse tipo doido de numerologia.

“HOLO-EMBUSTE”

Numa declaração ao semanário “Village Voice”, de Nova Iorque, Eli Rosenbaum, então consultor legal do Congresso Mundial Judaico, fez uma observação aguda sobre as tentativas de fabricação de um “holocausto ucraniano”: “eles estão sempre aparecendo com um número [de mortos] maior do que seis milhões, para fazer o leitor pensar: ‘Meu Deus, é pior que o Holocausto [judaico]” (Jeff Coplon, “In Search of a Soviet Holocaust”, Village Voice, 12/01/1988).

Rosenbaum, depois diretor do Office of Special Investigations (OSI) – a divisão do Departamento de Justiça dos EUA encarregada de investigar criminosos de guerra nazistas em território norte-americano – sabia do que estava falando.

Jeff Coplon, o articulista do Village Voice, nota que foi depois da instituição do OSI que a campanha do “holocausto ucraniano” se tornou mais intensa. A primeira ação relevante do OSI foi, precisamente, a prisão do ucraniano, naturalizado norte-americano, John Demjanjuk - que era, na verdade, o nazista “Ivan, o Terrível”, um dos mais atrozes carrascos do campo de extermínio de Treblinka.

Assim, não é uma coincidência que boa parte dos fabricantes do “holocausto ucraniano” sejam os mesmos que negam a carnificina de Hitler sobre milhões de judeus e eslavos. No Village Voice havia um contundente exemplo:

“No último catálogo da Noontide Press, filiada ao Liberty Lobby do exuberante fascista Willis Carto, ‘The Harvest of Sorrow’ [o livro de Robert Conquest que exumou a fraude do “holocausto ucraniano”] é listado lado a lado com tomos revisionistas tais como ‘O Mito de Auschwitz’ e ‘Hitler ao Meu Lado’. Para propagandear o livro de Conquest e sua fome-terrorista, o catálogo nota: ‘O ato de genocídio contra o povo ucraniano foi escamoteado [sic] até recentemente, talvez porque um holocausto real pode competir com um holo-embuste’. Para os que não são habituados com o jargão da Noontide, o ‘holo-embuste’ refere-se ao massacre de seis milhões de judeus” (Village Voice, art. cit.).

Voltaremos, num próximo artigo, às observações de Coplon. Por ora, basta a sua descrição do recrudescimento da campanha nos EUA:

“Pressionando cada pedal, mexendo todos os pauzinhos, está um lobby nacionalista ucraniano, esforçando-se em puxar para debaixo do tapete sua própria história de colaboração com os nazistas. Pela revisão de seu passado, esses emigrados ajudam a apoiar um mais ambicioso revisionismo: uma negação do holocausto de Hitler contra os judeus”.

REAGAN

Após a publicação, em 1987, de “Fraud, Famine and Fascism”, do pesquisador canadense Douglas Tottle, o “holocausto ucraniano” se tornou, para usar uma expressão chegada ao assunto, um caso historicamente liquidado.

Na verdade, ele jamais se sustentou em pé, apesar de vários obcecados – e bem pagos – elementos. A principal razão era a sua total falta de lógica. Não somente não interessava a Stalin que a população ucraniana decrescesse, como essa jamais foi a política do governo da URSS. Pelo contrário, sua política era de estímulo ao aumento da população.

Além disso, em 1932 a coletivização foi completada. Se nesse ano ainda persistiam dificuldades, a colheita de 1933, na qual a participação da Ucrânia foi decisiva, foi um recorde na história do país, o que teria sido impossível sem a semeadura do ano anterior - que certamente não foi realizada pelos fantasmas dos que morreram de fome...

O fato é que, na década de 30, o “holocausto ucraniano” havia sido desmascarado como uma fraude nazista. No pós-guerra, apesar da CIA ter recrutado apoiadores entre os nazistas ucranianos e financiado outra campanha em torno dele, acabou caindo em completo descrédito na segunda metade da década de 60.

Sua última aparição de alguma importância, nessa época, foi em 1964, quando um certo professor Dana Dalrymple publicou um artigo onde pretendia descobrir o real número de mortos da fome: simplesmente, como o leitor poderá verificar nesta página, em que reproduzimos a tabela de Dalrymple, ele fez a média entre as mais estapafúrdias estimativas – incluindo as dos nazistas. Para que ficasse de acordo com os conformes, Dalrymple deu um toque pessoal à invenção: estendeu a “fome de 1932-33” até 1934 (cf. Dana Dalrymple, “The Soviet Famine of 1932-1934”, Soviet Studies, janeiro, 1964).

Sem essa prorrogação da fome por mais um ano, Dalrymple não poderia aproveitar as histórias de Thomas Walker, aliás, Robert Green - o foragido de uma cadeia do Colorado que o magnata da imprensa americana W.R. Hearst contratou para escrever sobre a “fome na Ucrânia”. Walker/Green, apresentado como “testemunha ocular” da fome, jamais esteve na Ucrânia, como confessou quando foi recapturado, mas esteve alguns dias na URSS – porém, somente em 1934. Portanto, só poderia ter sido testemunha ocular da fome se ela fosse estendida até esse último ano...

Depois da década de 60, a fraude somente foi retirada do baú em 1983 – por Ronald Reagan, então em campanha acirrada contra a URSS e contra qualquer “distensão”. Três anos depois, no dia 7 de setembro de 1986, uma carta de Reagan dirigida à viúva de Yaroslav Stetsko - criminoso de guerra, colaborador dos nazistas durante a ocupação da Ucrânia e um dos cabecilhas da mal chamada “Organização Nacionalista Ucraniana” - foi lida pelo general John Singlaub, numa conferência da Liga Anti-comunista Mundial.

Disse Reagan à viúva de Stetsko: “A coragem e dedicação de seu marido à liberdade servirá como uma continuada fonte de inspiração para todos aqueles que lutam pela liberdade e auto-determinação” (Village Voice, art. cit.).

MACE

O novo método estatístico, introduzido por Dushnyck, fez sucesso entre os mercenários do anti-comunismo porque o antigo método – o chute descarado, puro e simples – estava desmoralizado, depois da tentativa de rejuvenescê-lo através de uma simples média aritmética, feita por Dalrymple em 1964.

Assim, depois de Dushnyck, o parceiro de Conquest, James Mace, usou o mesmo método em 1984, num artigo intitulado “Famine and Nationalism in Soviet Ukraine”. O artigo foi publicado pela revista “Problems of Communism” (edição de maio-junho de 1984). Essa revista (hoje rebatizada para “Problems of Post-Communism”) é o órgão da United States Information Agency (USIA), a mesma agência do Departamento de Estado que, como lembra Douglas Tottle, é responsável pela “Voz da América”, pela “Radio Marti”, tendo organizado a missão de espionagem do KAL 007 (o uso de um avião de passageiros sul-coreano para sobrevoar a URSS, com o resultado de que foi abatido pela defesa aérea soviética), entre outras aventuras.

Na próxima edição, examinaremos em detalhes o caso Mace/Conquest e sua manipulação dos censos soviéticos.


Retirado do link:
http://www.horadopovo.com.br/2008/setembro/2703-19-09-08/P8/pag8a.htm

Ver: Parte 2 e Parte 3

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quinta-feira, 18 de março de 2010

Cubanos falam sobre a "blogueira" Yoani Sanchez


Yoani Sánchez: Como construir uma "blogueira independente"


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A Guerra contra a Democracia - John Pilger

The War On Democracy by John Pilger

A Guerra contra a Democracia

Lista de Reprodução de todas as 9 partes:
http://www.youtube.com/view_play_list...
______
Parte 1/9:
http://www.youtube.com/watch?v=zP1gBN...
Parte 2/9:
http://www.youtube.com/watch?v=70J3ER...
Parte 3/9:
http://www.youtube.com/watch?v=NNP9wp...
Parte 4/9:
http://www.youtube.com/watch?v=_iDzAm...
Parte 5/9:
http://www.youtube.com/watch?v=6xOPkd...
Parte 6/9:
http://www.youtube.com/watch?v=nYDG08...
Parte 7/9:
http://www.youtube.com/watch?v=jVA2-g...
Parte 8/9:
http://www.youtube.com/watch?v=BvX6QI...
Parte 9/9:
http://www.youtube.com/watch?v=E3cfA7...



"Guerra contra a Democracia" é um documentário de 2007 escrito por John Pilger e dirigido por ele mesmo e Christopher Martin

O documentário centra-se na intromissão dos EUA nos assuntos políticos da América Latina.
Descreve a participação da CIA nos golpes de estado contra Jacobo Arbenz na Guatemala e Salvador Allende no Chile. Também aborda o tema da situação econômica no Chile depois da ditadura de Augusto Pinochet, a ascensão de Evo Morales na Bolívia e o golpe de estado contra o presidente Hugo Chévez da Venezuela, em 1972, que teve a provável participação dos EUA, através da CIA."

"Guerra contra a democracia" foi premiado em Londres como o melhor documentário do ano e é um "must see" para todos os que desejam conhecer melhor as "operações sombrias" planejadas, financiadas e executadas pelo governo dos EUA contra países da América Latina.

Os EUA possuem mais de 700 bases militares espalhadas pelo mundo, tem fomentado, financiado e participado direta ou indiretamente em quase todas as guerras ocorridas no planeta no século 20.

Com a ascensão do petróleo como a mais importante matéria prima do século 20, os EUA tem operado ativamente em dominar política e logisticamente todos os países ricos em Petróleo.

Desde a nacionalização do petróleo na Venezuela por Hugo Chávez, os EUA tem trabalhado incessantemente em demonizá-lo.

Atualmente os EUA tem um "braço" militar instalado na vizinha Colômbia através de muitas bases militares e tem trabalhado em incitar atrito entre Venezuela e Colômbia, uma "política" condizente com o interesse dos EUA em desestabilizar o governo nacionalista e anti imperialista do presidente Chávez..

John Pilger, jornalista australiano, ganhador de muitos prêmios internacionais, tem uma carreira impressionante de trabalho como jornalista, autor, conferencista e detentor oito títulos de doutor Honoris causa de varias universidades.
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Informações:
http://en.wikipedia.org/wiki/John_Pil...
Website oficial:
http://www.johnpilger.com/

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